Sobre la revista
Foco e Escopo
Na perspectiva reflexiva que compõe a obra do filósofo italiano Giorgio Agamben, a trajetória ocidental pode ser caracterizada pela constituição de dispositivos antropológicos, linguísticos, jurídicos, políticos, econômicos e técnicos, que em seu conjunto produziram e produzem o contínuo estado de exceção em que estamos vivendo. Tais dispositivos evidenciam que a vida em sua dimensão eminentemente biológica tenha se tornado o objeto por excelência da racionalidade política, jurídica e econômica na contemporaneidade. Estamos diante de imperativos que em sua sacralidade impõem formas de vida pautadas numa gestão administrativa e economicista da mesma.
Neste contexto, as estratégias de poder difundem-se sob o pressuposto de que é imperativo potencializar a vida, de que é preciso fazer sobreviver ou deixar morrer. Multiplicam-se os mecanismos de controle e vigilância na cotidianidade da vida de indivíduos e populações. Multiplicam-se os experimentos a que estamos submetidos diariamente na efemeridade do tempo em curso. Não há o devido tempo para vivenciar experiências significativas que a vida em suas múltiplas dimensões requer. A imortalidade se circunscreve no agora, na satisfação imediata e efêmera de desejos potencializados pela dinâmica da plena produção de mercadorias e subjetividades.
Multiplicam-se os discursos de que somente os regimes liberais democráticos de governo podem garantir liberdade aos indivíduos, aos povos, bem como o acesso a direitos, deveres e, sobretudo, ao consumo de bens produzidos, como condição de sentido e finalidade à vida, à existência humana em sua totalidade. Paradoxalmente, em tais regimes de governo presenciamos a manifestação de uma sociedade de massas, de milhões de seres humanos condicionados e conformados na dinâmica da plena produção e de promessas de consumo. Estamos diante da manifestação de um fundamentalismo democrático de mercado, assentado sobre a lógica do poder soberano e do estado de exceção que lhe é constitutivo. Assim, não sabemos a que nos referimos, quando anunciamos que vivemos em regimes democráticos de governo.
Diante deste poder soberano, que opera em contínuo estado de exceção, produtor de vida nua, detentor do direito de vida e de morte, nossas sociedades contemporâneas legislam freneticamente sobre todas as esferas da vida e das relações humanas, revelando um estado vital de ansiedade na busca por segurança. Neste cenário, a máquina jurídica invade a vida humana, normatizando a totalidade das relações humanas. Ao juridicizar o universo das relações humanas em âmbito privado e público, retira-se dos seres humanos sua condição política de agir conjuntamente na busca do bem comum, abre-se mão da potência do pensamento.
Inseridos no tempo presente somos desafiados a compreender os dispositivos de funcionamento da máquina civilizatória em curso, de seus fundamentos operacionais na produção e administrabilidade da vida. Talvez, nos aproximando de tais perspectivas seja possível no tempo que resta pensar, potencializar a inoperosidade do ser, do mundo, da vida, da existência.
A Revista Profanações, está vinculada ao Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional, ao Curso de Ciências Sociais, ao Curso de Direito, bem como ao Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ciências Humanas (Cnpq) e, ao Grupo de Estudos em Giorgio Agamben da Universidade do Contestado. Justifica-se por pretender ser o locus de discussões, reflexões e divulgação de trabalhos científicos, bem como, em se constituir num espaço de profanação das mais variadas dimensões da vida, que foram sacralizadas pelos imperativos biopolíticos, de gestão econômica, jurídica, política e administrativa da vida na contemporaneidade. “Profanar não significa simplesmente abolir e cancelar as separações, mas aprender a fazer delas um uso novo, a jogar, a brincar com elas”. (Giorgio Agamben).
Talvez este seja o desafio do tempo que resta, do tempo que vem, profanar, refletir, debater e compreender a crise dos modelos políticos e governamentais da atualidade, bem como pensar outras possibilidades de uma ontologia política, além da soberania e do direito, reconhecendo as lacunas doutrinárias e jurisprudencial constitutivas das formas de vida na atualidade. Assim, o tempo que vem, a comunidade que vem, a política que vem, o homem que vem, representam possibilidades de diálogo, de devir, de escrita e publicação das ideais que vem, constitutivas do mundo que vem. Essa é a proposta da Revista Profanações.
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Qualis Capes (Quadriênio 2017-2020): A4
OBJETIVOS DA REVISTA
Objetivo geral:
Constituir um espaço de compreensão e divulgação do arcabouço teórico e conceitual do pensamento do filósofo italiano Giorgio Agamben em seus aspectos filosóficos, políticos, econômicos, jurídicos, lingüísticos e culturais, como forma de contribuir com os estudos e, aprofundamentos das pesquisas em torno dos paradoxos, das contradições, dos limites e das possibilidades individuais e societárias em que estamos circunscritos nas sociedades democráticas contemporâneas.
Objetivos específicos:
a) Conhecer e difundir a trajetória filosófica e os problemas filosóficos em torno dos quais se movimenta Giorgio Agamben.
b) Colocar em debate as principais ideias do filósofo em sua potencialidade crítica e criativa diante do contexto societário vigente.
c) Constituir espaço de publicação da produção de pesquisadores em torno do pensamento de Agamben e autores afins.
d) Contribuir para difusão científica de ideais e conceitos advindos das ciências humanas.
e) Oportunizar leituras, análises e interpretações sobre as estruturas jurídicas e políticas contemporâneas.
f) Perscrutar os fundamentos das sociedades democráticas contemporâneas.
Processo de Avaliação pelos Pares
A Revista Profanações: contará com mecanismos de peer review, caracterizando-se como publicação acadêmica.
O sistema de revisão será feito em duas fases:
1º) O artigo passará pela avaliação do editor ou de membro da Comissão Editorial, para emitir parecer sobre sua adequabilidade às linhas editoriais da Revista.
2º) Sendo recomendado para publicação, o revisor, poderá enviá-lo diretamente aos pareceristas, ou antes disso, remetê-lo ao(s) autor(es) para revisões que considerar necessárias para a continuidade do processo de avaliação.
3º) Os pareceristas serão designados segundo o tema e o enfoque do artigo. A Revista conta com um banco de pareceristas especializados nas temáticas vinculadas às Ciências Humanas, anunciadas nas linhas editoriais da Revista, e seu recrutamento segue a política editorial, podendo envolver pesquisadores do Brasil, da América Latina e demais países.
4º) Os artigos que sejam rejeitados em qualquer uma das duas fases não serão devolvidos aos seus atores e se procederá sua destruição.
Periodicidade
Contínua
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